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Quarta Revolução Industrial: Um tapa de realidade no Oscar de 2022

Como a Quarta Revolução Industrial vem afetando nosso mundo e alterando paradigmas em premiações clássicas como o Oscar.

Uma parceria com

Transporte-se para o ano de 2010, em um dia como qualquer outro, no meio de uma conversa na copa do trabalho, tomando um cafezinho após o almoço com um colega, até que ele fala que uma locadora perto de sua casa iria não só alugar filmes em DVD, mas também contratar um roteirista e elenco de ponta, usar das tecnológicas cinematográficas mais avançadas e até mesmo ser premiado no Oscar por conta do sucesso da produção.

Muitas seriam as reações possíveis a esse evento, mas certamente a crença de que o que foi dito se concretize é aquela que se encontra mais distante da realidade. Apesar disso, parecemos por vezes esquecer de um fato: a realidade pode muitas vezes nos surpreender.

No ano de 2021, apenas 11 anos depois do encontro hipotético, a Netflix, fundada em 1997 e com o início de suas operações no ano seguinte como uma locadora de DVD’s online em que as solicitações eram feitas de forma digital com o envio e devolução dos filmes através dos correios iniciadas, além de ter sido líder de indicações (36 nomeações), ganhou não um nem dois prêmios do Oscar, mas sim SETE[1]!

Já no ano de 2022, talvez um pouco ofuscado pelo evento protagonizado por Will Smith e Chris Rock, um outro fato fez história: pela primeira vez, uma plataforma de streaming ganhou o prêmio da categoria de melhor filme com a produção “No ritmo do coração”, rompendo assim com uma barreira de hegemonia dos grandes estúdios, que há não muitos anos parecia intransponível.

O crescimento da relevância de streamings no cenário cinematográfico pode ser também lido como uma decorrência do momento paradigmático de transição tecnológica que vivemos. Se pensarmos um pouco mais, veremos que muitas das soluções tecnológicas que hoje utilizamos são encontradas no modelo de plataformas, como são Google, Facebook, Ifood, Uber, Netflix, e tantas outras.

No livro “A era da plataforma: Como Amazon, Apple, Facebook, e Google redefiniram os negócios”, escrito por Phil Simon, o autor define plataformas como “Um ecossistema extremamente valioso e poderoso que rápida e facilmente escala, metamorfoseia, e incorpora novas características, usuários, consumidores, vendedores e parceiros. Hoje, as mais poderosas plataformas são enraizadas em tecnologias igualmente poderosas – e seu uso inteligente. Em outras palavras, elas diferem das plataformas tradicionais porque elas não são baseadas em ativos físicos, terra, e recursos naturais”.

Ainda que seja desejável, e necessário, que nos aprofundemos cada vez mais nos debates sobre os impactos ambientais e sociais decorrentes do desenvolvimento tecnológico da era em que nos encontramos, o que vem se expandindo e alcançando cada vez mais espaços com a área de ESG (Enviromental, Social and Governance), as mudanças geradas pela lógica de plataformas nos colocam em um patamar em que não é mais possível imaginar um mundo em que inexista a opção de pedirmos um lanche, nos deslocarmos, ou nos comunicarmos através de soluções tecnológicas.

As mudanças são tão estruturais e impactantes que Marc Prensky, autor, palestrante e educador, cunhou o termo “nativos digitais” para designar aqueles indivíduos nascidos a partir das décadas finais do século XX, tendo, portanto, interações naturais com a tecnologia desde a infância, de modo que nunca experienciaram a realidade de um mundo completamente físico.

Em seu artigo “Digital Natives, Digital Immigrants”, Presnky apresenta os nativos digitais como acostumados a receber informação em uma velocidade muito rápida, preferindo ainda processar situações e informações de forma paralela além de apresentar uma tendência de preferência por serem multitarefas. Além disso, aponta ainda para uma preferência por recursos gráficos ao invés de textos, relatando um melhor funcionamento quando em rede e apresentando ainda uma ânsia por gratificações instantâneas e recompensas frequentes, preferindo, portanto, jogos à trabalhos socialmente considerados como “sérios”[2].

Presnky, citando como referência o Dr. Bruce D. Perry, da Faculdade de Medicina de Baylos, mostra ainda que as transformações no ambiente e a grande interação entre os indivíduos e o ambiente alteram, as estruturas cerebrais dos nativos digitais, possivelmente fisicamente inclusive, de modo que pensam e processam informação de uma forma fundamentalmente diferente de seus antecessores.

Ocorre que todas essas transformações ocorrem dentro do contexto do que foi apresentado por Klaus Schwab, diretor do Fórum Econômico Mundial, como a Quarta Revolução Industrial. Apesar de muitos ainda não identificarem ou acreditarem que possamos estar passando por uma Revolução Industrial, não parecem existir muitos motivos para duvidar de sua existência.

Voltando um pouco no tempo, temos que a primeira revolução industrial ocorreu do na transição do século XVIII para o século XIX, com a segunda ocorrendo na transição do século XIX para o século XX e a terceira na transição do século XX para o século XXI[3]. Apesar de terem seus marcos referenciais específicos, como, por exemplo, a máquina a vapor, a eletricidade e a informática, respectivamente, não é possível determinar com precisão um marco temporal específico para nos dizer onde terminou uma revolução e outra começou.

Se a história nos mostra, portanto, que as revoluções industriais passaram sempre por processos de transição de uma para outra, por que imaginar que seria impossível estarmos no momento de transição da terceira para a quarta revolução industrial, principalmente levando-se em conta que os avanços tecnológicos nas últimas décadas vêm ocorrendo de maneira exponencial?

Contudo, um ponto de entendimento se mostra fundamental para a compreensão da realidade imposta pela Quarta Revolução Industrial. A velocidade, o alcance e o impacto nos sistemas gerados pela por ela mostram que as transformações que observamos não são mera extensão da Terceira Revolução, mas sim a chegada de uma nova, que não se define por um conjunto de tecnologias emergentes em si, mas sim como um processo de mudança para novos sistemas, construídos com base na infraestrutura da revolução anterior. Dessa forma, segundo Schwab, "estamos a bordo de uma revolução tecnológica que transformará fundamentalmente a forma como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos. Em sua escala, alcance e complexidade, a transformação será diferente de qualquer coisa que o ser humano tenha experimentado antes"[4].

Assim como nosso colega de trabalho em relação à locadora perto de sua casa ser capaz de conquistar um Oscar, os adotantes iniciais do Bitcoin, lá em 2009, possuíam diversas perspectivas super otimistas em relação à criptomoeda, que integra parte do conjunto de tecnologias emergentes com a nova realidade tecnológica imposta pelo avançar da Quarta Revolução Industrial.

Com o tempo, muitos questionamentos foram feitos não só pelos adquirentes das moedas, mas também por parte daqueles ao redor dessas pessoas. “Será que ele realmente sabe no que está se metendo?”; “Será que eu realmente ganharei dinheiro com esse investimento?”; “Mas como ele pode ter ganhado tanto dinheiro com uma coisa que nem existe?”; “O Bitcoin vai pegar?”; “Por que ele não realizou seus ganhos antes da grande desvalorização da moeda?”; “Será que ele não está apegado demais ao ativo e, portanto, sendo superotimista?”.

Hoje, independentemente do histórico do criptoativo e de o Bitcoin ter “pego” ou não, a tecnologia Blockchain – necessária, por exemplo, para o desenvolvimento de NFT’s (Non-Fungible Tokens) – a si inerente, vem revolucionando diversos mercados e oportunizando a continuidade da evolução, até mesmo, da internet na chamada “Web 3.0”, mas que ficam para um próximo texto! (Se a vontade de aprender for maior do que a vontade de esperar, a nova edição do curso de NFT’s começa semana que vem, no dia 25 de abril; Quem avisa amigo é!)

Por enquanto, que possamos nos permitir refletir sobre o mundo em que vivemos e sobre como somos por ele impactados, desde a compra de uma pizza no Ifood até a mensagem de boa noite que mandamos no Whatsapp. Diante de um mundo totalmente físico vivido por nossos predecessores, esses exemplos, ainda que bobos, dizem muito mais sobre o mundo em que vivemos do que as vezes imaginamos!

[1] https://www.tecmundo.com.br/cultura-geek/216233-oscar-2021-netflix-lidera-estudios-7-vitorias.htm

[2] https://www.marcprensky.com/writing/Prensky%20-%20Digital%20Natives,%20Digital%20Immigrants%20-%20Part1.pdf

[3] SAKURAI, Ruudi; ZUCHI, Jederson Donizete. AS REVOLUÇÕES INDUSTRIAIS ATÉ A INDUSTRIA 4.0. Revista Interface Tecnológica, [S. l.], v. 15, n. 2, p. 480-491, 2018. DOI: 10.31510/infa.v15i2.386. Disponível em: <https://revista.fatectq.edu.br/index.php/interfacetecnologica/article/view/386>.

[4] https://www.bbc.com/portuguese/geral-37658309

Autores

Rodrigo Fatudo
Customer Sucess Operator no Sem Processo, Advogado e entusiasta da Quarta Revolução Industrial.